Intoxicação experimental em bovinos por “ mio-mio”, Baccharis coridifolia

Baccharis coridifolia (Compositae) is a common and important poisonous plant to livestock in southern Brazil and neighbouring countries. Regardless, there are few data available based on experimentation on its toxicity to cattle. The upper aerial parts of fresh green and of dried B. coridifolia were given orally, in different amounts and at different periods of the year, to 31 bovines. In some animals the doses were repeated. Animals were fed with the plant in regions where it does and does not occur. The plant used in the experiments was collected in Cacequi, Itaqui and Uruguaiana counties, in the State of Rio Grande do Sul. There was great variation in the toxicity of B. coridifolia throughout the year. In October/November, when the plant is sprouting, 2 g/kg were necessary to cause death in the bovines. In March, when the plant is flowering and seeding, 0.25 to 0.5 g/kg were sufficient. This means that the plant in March is 4 to 8 times more toxic than in October/November. The clinical signs, in the cases where the animals died, were anorexia, slight to moderate bloat, swaying gait, sometimes muscular tremors, restlesness, lying down and getting up repeatedly. With time, the animals remained more and more in sternal decubitus, and often tumbled onto their sides. Other signs were dry muzzle, bleary eyes, rumen without rythmic movements and only with a continuous murmur at auscultation, few dry faeces, slight salivation, polydipsia, polypnoea with arrythmia, groaning, tachycardia, and finally the animals laid down on their sides and died in this position within 15 to 60 minutes. The symptoms were quite similar in all the experiments, but in those using the dried plant, bloat and nervous symptoms were not observed. In experiments with the green, fresh plant, bloat occurred more frequently and was more intensive in October/November, whilst nervous symptoms were more noticeable in March. Fresh, green plant material produced first signs of poisoning between 5 and 29 hours after its administration and the symptoms lasted from 4 to 34 hours. The animals died from 14 to 41 hours after ingestion. Dried plant material produced first signs of poisoning 6 to 17 hours after administration and the symptoms lasted from 8 to 63 hours. The animals died between 25 and 74 hours after eating the dried plant. Constipation was generally followed by diarrhoea and loss in weight in experiments which produced no fatality; the illness lasted up to 14 days, after which time rumen movements and appetite were normal again. No differences in susceptibility to poisoning by B. coridifolia was observed between animals from regions where the plant does and does not grow. The dried plant remained toxic for at least 18 months alter its collection storing at room temperature. Approximately half its toxicity was lost during the drying process. In experiments where the plant was administered repeatedly no cumulative effect was revealed, but a little tolerance probably developed. Post-mortem examinations revealed congestion of the mucosa of the rumen and reticulum with oedema of the wall; congestion and petechiae on the mucosa of the abomasum and small intestine, the latter having liquid contents. The liver was lighter in colour than usual. There were hemorrhages on the epicard and endocard. The main histopathological findings were necrosis and detachment of the epithelium of the mucosa of the rumen and reticulum, which was oedemic, congestion in the spleen and oedema of Disse's spaces in the liver.Baccharis coridifolia D.C., da família Compositae, é a planta tóxica para herbívoros mais difundida e mais importante no sul do Brasil. Apesar disto há poucos dados, baseados na experimentação, sobre a toxidez desta planta para bovinos. Foram administradas, por via oral, as partes aéreas superiores de B. coridifolia a 31 bovinos. Desses experimentos, 22 foram realizados com a planta verde recém-colhida e 9 com a planta dessecada; a planta foi administrada aos bovinos em diversas quantidades e em diferentes épocas do ano, a alguns animais repetidas vezes, com ou sem administração de água após a sua ingestão; os animais procediam de região em que ocorre a planta e de região onde ela não ocorre. A planta foi coletada nos municípios de Cacequi, Itaqui e Uruguaiana, Rio Grande do Sul. B. coridifolia mostrou uma variação bastante grande em sua toxidez de acordo com a época do ano. Enquanto que em outubro/novembro, com a planta em brotação, recém-colhida, foram necessários 2 g/kg para causar a morte de bovinos, em março, com a planta em floração e formando sementes, também recém-colhida, apenas 0,25 a 0,50 g/kg foram suficientes. Desta maneira a planta em março é 4 a 8 vezes mais tóxica do que em outubro/novembro. Os sintomas da intoxicação experimental com B. coridifolia em bovinos, nos casos que terminaram com a morte do animal, foram bastante uniformes em todos os experimentos realizados, tanto com a planta recém-colhida como com a dessecada. Havia anorexia, timpanismo leve a moderado, instabilidade do trem posterior, às vezes associada a tremores musculares; o animal ficava irrequieto, deitava e levantava-se seguidamente, permanecendo cada vez mais tempo deitado em decúbito esternal, às vezes tombando para o lado. Os animais ainda tinham focinho seco, secreção nos olhos, rúmen sem bracejo percebendo-se à auscultação murmúrio contínuo, fezes ressequidas e poucas, leve sialorréia, polidipsia, polipnéia com ritmo irregular e às vezes gemidos, taquicardia; finalmente o animal morria dentro de um quarto a uma hora após o decúbito lateral. Nos experimentos com a planta dessecada não foram observados nem timpanismo nem sintomas nervosos; nos experimentos com a planta verde recém-colhida timpanismo foi observado mais frequentemente e com mais intensidade em outubro/novembro, enquanto que sintomas nervosos foram vistos, sobretudo em março. Os primeiros sintomas apareceram, nos experimentos que terminaram com a morte do animal, com a planta recém-colhida, entre 5 e 29 horas, e com a planta dessecada, entre 6 e 17 horas após a sua administração; a duração dos sintomas com a planta recém-colhida foi de 4 a 34 horas, é com a planta dessecada, de 8 a 63 horas, e o prazo entre a administração da planta e a morte do animal, com a planta recém-colhida, foi de 14 a 41 horas, com a planta dessecada, de 25 a 74 horas. Nos experimentos que não terminaram com a morte do animal, observou-se, tanto com a planta recém-colhida como com a planta dessecada, anorexia, rúmen sem bracejo mas com murmúrio contínuo, rúmen compacto à palpação, focinho seco, catarro nas narinas, exsudato catarral nos olhos, sialorréia leve, prisão de ventre, geralmente seguida de diarréia; havia emagrecimento e restabelecimento com normalização dos movimentos do rúmen e volta do apetite. A duração da doença nesses casos variou de poucas horas até, no máximo, 14 dias. Os experimentos indicam que não há diferença na susceptibilidade à intoxicação por B. coridifolia entre animais de regiões em que haja ou não a planta. Indicam também que, beber água após a ingestão da planta, não influencia a evolução da intoxicação. A planta dessecada mantém a sua toxidez durante longo período, pelo menos até 18 meses após sua coleta com conservação em temperatura ambiente, porém perde aproximadamente metade de sua toxidez no processo de dessecação. Os experimentos com administrações repetidas revelaram que a planta não tem poder acumulativo e indicam que o animal desenvolve pequena tolerância. Os achados de necropsia mais frequentes consistiram em congestão da mucosa e edema da parede do rúmen e do retículo, congestão e petéquias na mucosa do coagulador e intestino delgado, este último com conteúdo líquido, fígado com coloração mais clara que o normal, hemorragias no epi e endocárdio. Os principais achados histopatológicos foram necrose e desprendimento do epitélio da mucosa edemaciada do rúmen e do retículo, congestão no baço e edema nos espaços de Disse do fígado